PUNK E BEAT

   Da mesma forma que a maioria dos movimentos culturais, o cyberpunk não veio do nada. Ele, como muitos outros gêneros, se inspirou em movimentos anteriores. Os dois principais que deixaram marcas explícitas foram o movimento punk, dos anos 70, e o movimento literário da Geração Beat, dos anos 50. 

   O punk não está presente apenas no nome do gênero. O cyberpunk incorporou muito de sua atitude niilista, subversiva e até agressiva. Inicialmente, o punk era um gênero musical protagonizado pelos Sex Pistols, Ramones e outras bandas, mas acabou se transformando em um movimento contracultural mais amplo. O movimento punk teve início na Inglaterra, na década de 70, quando os conservadores assumiram o poder e a crise econômica do país começou a afetar as classes mais pobres.

   A revolta gerada, principalmente entre os jovens, deu início ao tão conhecido movimento punk, que muitos acreditam ter começado na música e, futuramente, se espalhado para outras áreas da cultura e outros países. "Uma manifestação cultural, quando surge, ela surge quando aparece algum incômodo social que precisa ser visto. O punk tem esse lado questionador e, como outros gêneros musicais, surge como manifestação cultural. E acho que hoje falta esse sentimento de insatisfação", comenta Edson Santos, profissional da área de desenvolvimento de software.

A entrevista gravada para um documentário em 1998, mostra o cenário do punk no Brasil e quais eram os principais pontos de defesa do movimento . Vídeo: Reprodução/YouTube

   Uma das maiores semelhanças com o movimento, além da atitude subversiva, são as roupas e o estilo. É muito comum que os personagens das histórias cyberpunk estejam cobertos com couro preto e com visuais radicais e personalizados, já que o punk popularizou a cultura do faça você mesmo para garantir uma personalidade única nas produções.

   Em geral, não só no visual, mas o movimento buscava chocar e renegar todos os princípios da classe média e rica. "Os acordes são menos elaborados. Eu acho que há mais um desacorde, uma dissonância, do que necessariamente algo melódico. Isso faz parte de todo o conceito que vem junto com o punk, porque essa ruptura, essa quebra social, vem como uma crítica à classe média e rica. O punk tinha essa necessidade de chocar trazendo muita violência, não só física mas musical também", explica Daniel Kristensen, Supervisor de Serviço ao Cliente do MetroRio e entusiasta do gênero.

"Os acordes que eram mais simples mas ao mesmo tempo eram mais pesados e traziam uma certa estranheza. O primeiro disco do 'Ratos do Porão' por exemplo, 'Crucificados pelo Sistema', além da gravação ter baixa qualidade parece que o instrumento também é de baixa qualidade. É como se a guitarra estivesse quase desafinada, mas é um som bom", afirma Daniel. 

   Mas não foi só o punk que teve grande influência; outro movimento contracultural que apresenta semelhanças com o cyberpunk foi a Geração Beat dos anos 50 que algumas décadas depois foi apelida de Beatniks. Embora o movimento seja mais lembrado por suas produções literárias, também teve impacto na música, no cinema e em outras formas de arte

   Embora o gênero cyberpunk seja frequentemente associado a personagens conformistas, que aceitam a opressão do sistema e buscam apenas sobreviver em um mundo distópico, ele também herdou a atitude rebelde da Geração Beat. Assim como os Beatniks dos anos 50, que desafiaram os padrões sociais e buscaram alternativas ao conformismo da sociedade americana pós-guerra, o cyberpunk carrega uma crítica à ordem estabelecida. Mesmo que muitos dos personagens se vejam presos em um ciclo de alienação, a narrativa do gênero, em sua essência, ainda preserva um espírito de resistência.

On the Road de Jack Kerouac é um dos livros mais celebrados da Geração Beat e conta com uma adaptação para o cinema. Foto: Divulgação/Amazon
On the Road de Jack Kerouac é um dos livros mais celebrados da Geração Beat e conta com uma adaptação para o cinema. Foto: Divulgação/Amazon
"São duas críticas contra o sistema, e você consegue ver, ao comparar os dois gêneros, como o sistema foi ficando pior e pior. Coisas que eram problemas na Geração Beat continuam sendo problemas no cyberpunk. No sentido que eles estão continuam criticando, sabe? A sensação é que nada melhorou muito na sociedade" finaliza Ariane, especialista da Geração Beat.

Reportagem feita por Malu Danezi 

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